Lixos da memória...  

Posted by: Rose Porciuncula in

Mais das vezes, o que temos nas gavetas e nos roupeiros não serve para nada, é lixo puro. Mas vamos deixando, guardando, preservando, um dia talvez possamos usar de novo aquela velha roupa, precisar desta ou daquela inutilidade etc etc.
E os conselhos que ouvimos são para que limpemos as gavetas, os guarda-roupas, que joguemos fora os inúteis, as velharias que não prestam para mais nada. Quem já não ouviu esse tipo de conselho? Eu também, e muitíssimas vezes dispus-me a fazer a tal limpeza.
A idéia desta charla veio-me exatamente de um desses momentos. Decidi pôr fora velhos recortes sobre mim, fotos tolas, recordações inúteis e que são recordações apenas para mim. Bolas, se essas recordações não estiverem na minha cabeça de que me vai adiantar tê-las nas gavetas?
Ontem, por exemplo, estive conversando com um colega. Contava a ele passagens minhas pelas tantas e tantas estradas profissionais por que já passei. E contava, com especial dramaturgia e estranho prazer, dos meus erros mais inesquecíveis, da minhas tolices mais rematadas. E foram tantas...
Ah, que prazer em contar que fui estúpido, que fui um asno, que joguei oportunidades fora, que fiz, pintei e bordei em erros e equívocos que já deviam estar na lata de lixo do esquecimento de há muito...
Mas é assim, parece que nos embevecemos, parece que tomamos uma bebida forte que nos faz mais forte a lembrança do que houve de ruim em nossa vida. Por que não lembrar com com prazer, por que não contar ao colega dos acertos, dos bons momentos, por que insistir em lembrar do asqueroso? Então é pura bobagem limpar os guarda-roupas, as gavetas, tentando simbolicamente limpar a vida dos inúteis da matéria. Os piores inúteis, os mais danosos à alma, ao corpo, à vida, são as lembranças dos tombos que levamos, tombos nossos, por nós provocados, e rasteiras que nos passaram.
Freud tinha razão, o lado escuro da nossa personalidade, o Tanatos desastroso da morte e da destruição, tem apelo quase irresistível na condição humana. Se vou comprar uma rifa, digo que nunca antes ganhei nada. Se vou para um concurso, terei poucas chances, afinal, sou pobre, sou sem sorte, sou isso, sou aquilo...
Se vou a um baile, ora, quem vai querer dançar comigo?, já passei por experiências ruins no passado. E assim vou me deprimindo, acumulando lixos de experiência na memória. E não me dou conta de que a memória está ansiosa para contar aos outros das minhas vitórias. Mas eu a mando ficar quieta, só lembro e conto do que não presta.
Sou humano.
Luiz Carlos Prates

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