Entenda o livro:
A obra O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry, traz
em seu corpo alguns temas universais. Em princípio, é um texto que pode parecer
infantil, mas, na verdade, é próprio não só para crianças como também para
adultos, pois as mensagens que carrega nas entrelinhas são lições de amor,
amizade e pureza, além de críticas à maneira de como os adultos enxergam as
coisas e as pessoas ao seu redor.
O texto fala sobre um aviador que é desencorajado a desenhar
quando ainda era criança e que, em meio ao deserto, encontra uma figura
extraordinária. Começa, então, a fabulosa história sobre o Pequeno Príncipe, um
menino que mora em um planeta muito pequeno e que tem somente uma flor como
companhia. Ela é muito vaidosa, mandona e fala demais. Cansado de sua vaidade,
um dia ele resolve partir em busca de respostas e faz uma jornada por seis
planetas (até chegar à Terra). Cada planeta é habitado por apenas uma pessoa.
O primeiro planeta é habitado por um rei que gosta muito de
dar ordens e de ser obedecido. O problema é que ele só ordena aquilo que é
possível acontecer como, por exemplo, mandar o sol se pôr somente na hora
natural desse acontecimento. Ele representa aquela pessoa que vive só de
aparências, que deseja mostrar aos outros aquilo que não é. Também, aquela que
é autoritária e gosta de se sentir importante.
Quem habita o segundo planeta é um homem muito vaidoso que
adora ser aclamado; não escuta críticas, só elogios. Ele representa a vaidade
do ser humano. Não a vaidade natural, mas aquela que se torna mais importante
do que tudo na vida.
O terceiro planeta é habitado por um bêbado que bebe para
esquecer a vergonha de beber. Ele tem consciência de sua desgraça, porém, não
faz nada para mudar. Representa a pessoa fraca, que não tem forças para lutar
contra aquilo que lhe abate e acha mais fácil atirar-se ao problema do que
lutar para superá-lo.
No quarto planeta, há um empresário que só está preocupado
com os números, quer possuir tudo, até as estrelas. É tão ocupado que não tem
tempo sequer para acender o cigarro apagado em sua boca. Ele representa a
ganância do ser humano, a preocupação em ter, em possuir.
No quinto planeta, há um acendedor de lampião. De dia ele
apaga o lampião e à noite ele acende. Apesar de ser uma ocupação útil, é ruim,
pois o acendedor não tem tempo nem para dormir, porque os dias se passam tão
rapidamente que, assim que apaga o lampião, já tem de acendê-lo novamente. Ele
representa as pessoas que, mesmo sendo boas, só trabalham e não têm tempo para
mais nada, não desfrutam o que mais a vida tem a lhes oferecer.
O sexto planeta é o maior de todos os outros já visitados. É
habitado por um geógrafo que sabe tudo sobre mares, rios, cidades, montanhas e
desertos, e onde exatamente eles se encontram, mas que nunca andou pelo seu
planeta para vê-los, explorá-los e conhecê-los pessoalmente. Fica o tempo
inteiro sentado em sua mesa estudando. Ele representa as pessoas que não agem,
são apenas teóricas; gostam de ter razão e de saber muito, mas nada fazem de
prático; ficam inertes, esperando a vida passar.
Dando continuidade às críticas feitas aos tipos humanos na
obra, certamente não poderiam ficar de fora aqueles que o Pequeno Príncipe
encontrou na Terra, o sétimo planeta visitado. O capítulo XVI, que corresponde
à chegada do Pequeno Príncipe ao nosso planeta, inicia com uma afirmação que
diz que a Terra não é um planeta qualquer, pois nela existem centenas, milhares
e milhões de exemplares iguais àqueles encontrados nos outros visitados por ele
(reis, geógrafos, negociantes, beberrões e vaidosos), ou seja, “pessoas
grandes”, como denomina nosso pequeno amigo. A Terra seria uma espécie de
concentração de todos aqueles tipos aos quais a obra faz sua crítica.
Quando o Pequeno Príncipe chega ao solo terrestre, encontra
uma serpente, com quem conversa. Em meio ao diálogo, o principezinho diz que se
sente um pouco só no deserto. A serpente responde dizendo que entre os homens
também é possível sentir-se só. Essa crítica é universal, pois em todos os
lugares do mundo é possível sentir solidão mesmo entre centenas de pessoas,
pois os seres humanos são, em geral, cada vez mais individualistas.
Depois, o Pequeno Príncipe encontra uma flor de três
pétalas. Ele pergunta pelos homens e ela diz que um dia vira passar uma
caravana, mas que no momento não sabe deles, pois nunca se pode saber onde eles
estão. Segundo ela, o vento os leva; eles não têm raízes, porque não gostam
delas. A resposta da flor também apresenta um perfil do homem universal, que
geralmente é confuso e não sabe para onde deseja ir. Vive, respira, trabalha,
mas não sabe em prol de quê.
Em seguida o príncipe encontra uma grande montanha, a qual
ele escala. Pensa que do alto enxergará os homens, mas isso não acontece.
Começa, então, a chamar por eles. Ouve apenas o eco, que lhe responde a mesma
coisa que diz. O principezinho acha engraçado e critica a falta de imaginação
dos homens, porque apenas repetem o que já fora dito. O que está nas
entrelinhas, nessa parte do texto, é que os homens são vazios, sem
personalidade e apenas repetem os atos dos outros. Isso é universal, pois há
pessoas com esse tipo de comportamento em todos os lugares do planeta.
Mais tarde, o Pequeno Príncipe encontra a grande personagem
da obra: a raposa. Ela faz vários comentários sobre os homens dizendo, por
exemplo, que eles já se esqueceram o que é um ritual, que é aquilo que faz um
dia ser diferente do outro, ou então que cativar é algo também quase sempre
esquecido, e que significa criar laços. Os homens, em geral e em todo o mundo,
vivem apressados e se esquecem das pequenas coisas da vida, como ter um ritual
para realizar qualquer tipo de atividade, ou então não desejam perder tempo
conquistando a amizade e o carinho de alguém.
A raposa é quem ensina ao principezinho a amar um ser de
forma única e particular. Ela lhe passa as grandes mensagens da obra, entre
elas a principal, que ela denomina como o seu segredo: “Só se vê bem com o
coração. O essencial é invisível aos olhos” (p. 72). Essa lição serve para
qualquer pessoa, em qualquer local. É totalmente verdadeira, pois as aparências
não nos mostram o que há no interior de alguém, o que uma pessoa
verdadeiramente é. Em qualquer lugar do mundo, só poderemos conhecer alguém de
verdade se estivermos desprovidos de preconceitos e visões estereotipadas.
Após despedir-se da raposa, o Pequeno Príncipe segue viagem
e encontra um manobreiro. Ele diz que seu trabalho consiste em separar os
passageiros dos trens e despachar os trens que os carregam. Quando o
principezinho pergunta sobre a pressa e o destino das pessoas que estão
seguindo viagem, o manobreiro responde dizendo que nem elas sabem seus
destinos. Estão sempre com pressa e insatisfeitas com os lugares onde estão,
mas não sabem para onde desejam ir. Ainda diz que as únicas que estão felizes e
sabem o que procuram são as crianças. Essa mensagem também pode ser considerada
como universal, já que esse é um comportamento do homem em qualquer lugar, não
importando a sua cultura. Em geral, os seres humanos nunca estão satisfeitos
com o que têm e com o que são. Buscam evoluir, o que é louvável quando se sabe aonde
se deseja chegar, mas que é um grande problema quando apenas se deseja melhorar
sem saber o objetivo dessas mudanças.
Depois de ter conversado com o manobreiro, o Pequeno
Príncipe encontra um vendedor que comercializa pílulas especiais que saciam a sede.
Este, quando questionado, responde que suas pílulas geram uma grande economia
de tempo. As pessoas que fizessem uso do medicamento ganhariam até 53 minutos
por semana. Com esse tempo, poderiam fazer o que quisessem. Os homens, em todo
o mundo, correm desesperadamente atrás do tempo perdido. Lamentam-se pelo
tempo, que passa rápido demais, fazendo com que a vida, consequentemente,
também passe depressa. A contradição está em saber que a maioria das pessoas
não aproveita seu tempo para dedicar-se às coisas que realmente importam.
Mais tarde, o principezinho encontra um aviador que havia
sofrido um acidente no deserto. O aviador, conforme já mencionado, é um homem
um tanto frustrado por ter sido desencorajado, na infância, a desenhar.
Sentia-se inconformado com a insensibilidade dos adultos. Cresceu com essa
angústia dentro de si, mas acabou se tornando, mesmo que forçadamente, “gente
grande” como os outros adultos, e perdeu um pouco do encantamento, situação que
se reverte após ser cativado pelo Pequeno Príncipe, que lhe ensina a mesma
lição ensinada a ele pela raposa. O aviador representa grande parte dos homens
em todo o mundo, aqueles que, ao se tornarem adultos, enrijecem seu espírito e
seus pensamentos, passando a desacreditar nos seus sonhos de infância.
Cada habitante dos planetas visitados pelo Pequeno Príncipe,
e até mesmo aqueles que ele encontra na Terra, representam um tipo de pessoa, e
todos são vistos com olhar crítico sobre como a maioria dos adultos veem as
coisas, como pensam e agem. Esses tipos de pessoas existem em qualquer lugar do
mundo, pois a essência do ser humano é a mesma, não importando de qual lugar
ele é e em qual cultura está inserido. Os sentimentos de amor e de amizade que
aparecem ao longo da história também são considerados como temas comuns a
todos, e por esses aspectos, a obra O Pequeno Príncipe pode ser chamada de
universal.
Ensaio apresentado na disciplina Literatura Universal -
Curso de Letras - Centro Universitário La Salle - Canoas - RS - 2008/2
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on sábado, dezembro 15, 2012
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de euzinha pra vcs,
saiu por aí
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